Um dos problemas de ir de férias é aquela sensação de que assim que estas começam, inicia-se ao mesmo tempo contagem decrescente para o seu final. E a noite de dia 02 de Janeiro para dia 03 trazia a antecipação do principio do fim das minhas férias. Mas ainda faltavam 3 dias para o final, e a "cereja" das férias estava reservada para o fim: O regresso a Glasgow de carro!A viagem tinha sido intensivamente planeada, e tudo estava a postos, tudo tudo menos o tempo! Nem foi necessário o alarme do relógio tocar para acordar, às 5h da manhã uma tempestade em Faro encarregou-se disso. Um diluvio com raios e trovões assolava Faro, e alertava-me para a única coisa que me tinha escapado na preparação da viagem: o tempo! Assim às 5h da manhã estava eu a olhar para a previsão e a aperceber-me que me falhou um detalhe bem importante. As previsões para o dia 3 para Espanha, França e Inglaterra eram pouco animadoras: Neve, Neve e ventos e chuva forte. Felizmente o cenário previa-se melhor para dia 4 de Janeiro. Quando se quer atravessar 4 países deve-se ter atenção ao tempo...principalmente no inverno. Para os que de vocês querem fazer grandes viagens aqui fica a sugestão:
http://www.meteoalarm.eu/
A viagem ficou então adiada mais um dia. E no dia 4 de Janeiro, desta vez com um melhor cenário meteorológico, e a Catarina saimos de Faro rumo a Glasgow. O plano da viagem c
oloquei-o no Google Earth para dar uma vista global dos 3000 km que nos aguardavam! Como eu gosto de um bom roadtrip! De GPS em punho a primeira paragem era em Portalegre para me despedir dos meus pais. As despedidas tiveram que ser curtas pois a viagem iria ser longa. Um pouco depois de Castelo Branco e já com o estômago a dar horas, paramos para comer numa estação de serviço e pela primeira vez desde que f
ui para Glasgow me senti realmente imigrante. A estação de serviço estava cheia de imigrantes que regressavam a França (maioria das matriculas eram Francesas) mas havia também algumas inglesas. Teriamos companhia até Glasgow?? E a meio da tarde do dia 4 de Janeiro, e depois de passar pela Serra da Estrela, estávamos em Vilar Formoso a sair de Portugal.
A Espanha já espreitava, bem como a noite! E os viajantes já começavam a sentir algum cansaço, era altura de pensar onde parar. Burgos era o plano inicial, mas atentendo ao que ainda faltava para lá chegar a ideia foi posta de parte e substituida por
parar em Valladolid.
Foi uma parte chata da viagem, e foi com muito esforço que se fizeram os cerca de 400km até lá. E depois de andarmos às voltinhas na rotunda em frente ao hotel a tentar perceber como se entrava, de descarregar as malas, era altura de descansar e jantar! O hotel não era mau de todo, e assim que largamos as malas no quarto descemos feitos esfomeados para o restaurante para comer o belo do bife. E viva o descanso!
O 2º dia de viagem amanheceu nublado, mas antevia uma boa parte da viagem, senão a mais bonita, o País Basco. Viajar de carro pela Espanha é uma experiência muito boa. Para além de podermos apreciar boas paisagens, as estradas são boas, com 2 faixas de cada lado, mas o mais importante de borla! Na primeira paragem, numa estação de serviço perto de Burgos, demo-nos conta de uma das noticias que marcava a actualidade desportiva mundial, o cancelamento do Dakar. E algumas equipas agora de
volta a casa, estavam na nossa rota. Enquanto os km iam passando a paisagem a nossa volta deixa de ser plana e algumas montanhas começavam a aparecer no horizonte, o que para mim era uma alegria! Como bom alentejano que sou, farto de planície estou eu!!!
Estávamos nesta altura a rumar para Mundaka para a parte lúdica da viagem. Por recomendação do amigo Tiago ajustamos o GPS e decidimos ver a bonita cidade. Mas a verdade é que até lá toda a paisagem é arrebatadora. Muitas montanhas, muito verde. Que belo passeio.
Mundaka é um surf spot, onde actualmente ocorre a 10ª etapa de surf mundial, denominada de Billabong Pro Mundaka. Conhecida pelas suas ondas é também uma cidade pequena, acolhedora e muito bonita que vale a pena conhecer.
O tempo que pudemos dedicar a Mundaka não foi o que quisemos mas o que pudemos, e quando partimos, ainda com muitos km pela frente, senti a vontade de regressar...
Para local de pernoita, decidimos que Bordéus era uma boa
solução. Deixava-nos numa posição boa para continuar a viagem e, fazendo mais km no principio da viagem, poderíamos ter uma margem de manobra maior em relação ao tempo, no caso de alguma eventualidade surgir...e mal sabíamos nós o que ainda nos estava reservado!! Começou ainda nesse dia, quando, e por estarmos em Espanha, e haver boas alternativas às autoestradas, liguei o modo "Evitar autoestradas" do GPS. Resultado: várias horas às voltas a subir e a descer montanhas no país basco, em estradinhas secundárias, para chegar à fronteira, Irún. O pior e que eu esqueci-me completamente que
essa opção estava ligada, e quando finalmente comecei a estranhar o facto do GPS nos estar sempre a levar para "maus caminhos", lá parei, e pus este pedaço de carne a que de vez em quando mereço chamar cérebro a funcionar
e a resolver o nosso problema. Com isto, perdemos tempo, apanhamos valentes sustos, e amaldiçoámos o Tiago pela sugestão!!! Mas a culpa foi toda minha, por isso, Tiago, se ficaste com as orelhas vermelhas neste dia, desculpa!! Mas a verdade é que nem tudo foi mau. Para além de andarmos sempre junto ao mar, com paisagens naturais fantásticas (e isto era ao anoitecer) passamos por algumas pequenas cidades mas muito bonitas. Também teve a sua parte divertida, rimos muito com a situação e até iamos inventado argumentos para bons filmes, pois o cenário era tal e qual aos filmes de terror, em que o casal se perde numa zona longe da civilização, encontra uma casa assombrada, decidem entrar e pronto...acabam fritos.
Lá dei com o erro do GPS e passado pouco tempo Irún já estava para trás. E a parte da viagem mais animada foi esta. A fronteira da Espanha com a França como devem imaginar, depois da passagem de ano, está lotada de imigrantes e camionistas portugueses. Pois a verdade é que por várias vezes passamos por eles, e sempre no buzinavam, achamos engraçado, e sempre que viamos algum com matricula portuguesa toca de buzinar! E assim fomos deixando uma pequena sinfonia pelo caminho até Bordéus. Em Bordéus esperava-nos o melhor hotel de todo o percurso, e também o mais barato! Claro que para dar com ele foi outro filme com o GPS.
Em Bordéus a manhã chuvosa resumiria toda a viagem desse dia! Chuva chuva e mais chuva. E por isso não há fotos deste dia, nem mesmo quando passamos por Paris. Chegamos ao principio da noite a Bologne-sur-mer e arranjamos alojamento. A travessia para Inglaterra e a fase final da viagem estava próxima. No dia seguinte e após as sandubas do pequeno almoço, fomos até ao cais de embarque para apanhar o ferry. A fila era grande, e os primeiros carros começavam a voltar para trás. Intrigados, esperamos que alguém da empresa do ferry viesse falar connosco. E não foram boas noticias...devido aos ventos fortes o barco não podia sair! Vento? Qual vento? Não faziam mais do que uma ligeira brisa no momento. Decidimos, em vez de esperar que as condições para atravessar de barco melhorassem, ou apanhar outro barco em Calais, através
sarmos pelo Eurotunel. E só a meio do caminho, quando paramos para abastecer o carro e que nos temos conta realmente da ventania que estava! A Catarina ia voando, e eu ficando sem cabelo (ou o que resta dele)! Lá conseguimos perceber as mil e uma regras de entrada para o Eurotunel e começamos a entrar no comboio. Foi aqui, que a Catarina fez a ilegalidade da viagem, pela qual ainda se assusta sempre que ouve uma sirene. Ignorou os 100 avisos para não tirar fotos com flash dentro do comboio, e pronto, pumba! Com algum receio, aqui fica a prova da ilegalidade...
A viagem durou 30 minutos, e que estranhos 30 minutos... Atravessar um túnel debaixo de água, dentro de um comboio, dentro de um carro...de repente as portas começaram a abrir e lá começaram a dar luz verde para sairmos...Inglaterra cá estamos nós!
Nesta altura já se tinham feito uns bons 2500 km...mas ainda faltavam 800 km até casa e o desafio de guiar a esquerda! Pelo o que a Catarina disse, nem me adaptei mal, e o que eu mais receava nesta viagem toda, acabou por ser mais fácil do que pensei.
Quilómetros atrás de quilómetros íamos ficando cada vez mais próximos de Glasgow. Até que no domingo dia 06 de janeiro as 22h chegamos a casa! E a roadtrip terminou!
Mas o pior da viagem ainda estava para vir, e aconteceu na minha garagem! No dia 7 de manhã, quando pensava que ia ser um dia normal de trabalho, mas desta vez com carro, desço à garagem e qual não é o meu espanto ao ver 2 vidros partidos e tudo revoltado lá dentro! E mais não me apetece dizer acerca disto, apenas que muito praguejei!!!